A noção de morte adquire-se de forma progressiva e não é possível situá-la cronologicamente de forma precisa. As experiencias de vida da criança são, para este aspecto, fundamentais; já que tem sido possível observar essa aquisição naquelas que foram confrontadas com a morte (no seu meio ou quando, elas próprias, são afectadas devido a doença grave ou crónica) (Golse, 1985).
A aquisição do conceito de morte admite assim, segundo Golse, uma vertente afectiva e outra intelectual.
Intelectualmente são adquiridas várias noções de forma sucessiva:
1. irreversibilidade (noção de “nunca mais”) – por volta dos 4 ou 5 anos
2. universalidade ( a morte atinge todos, incluindo o próprio) – por volta dos 5 ou 6 anos
3. desconhecimento do após a morte – adquirida muito mais tarde; nem sempre adquirida, pois contra esta aquisição ‘lutam’ diversos sistemas religiosos e filosóficos. O componente de ansiedade e mistério decorrem desta noção.
Afectivamente, não se pode subdividir a aquisição do conceito de morte por etapas. Neste campo a noção encontra-se relacionada com a questão da ausência, que por sua vez "pode ser abordada na perspectiva ansiedade de castração e da perda do objecto (...)" (Golse,1985)
O autor faz uma análise crítica entre a ansiedade de morte e a ansiedade em adormecer, muitas vezes equiparadas entre si: "(...) a ansiedade de morte e a ansiedade de adormecer - tão frequentemente comparados - parecem-nos, de facto, diametralmente opostas". A ansiedade de morte liga-se com a estranheza da continuidade do outro apesar do desaparecimento de si próprio. A ansiedade em adormecer baseia-se no temor do desaparecimento do outro durante a ausência de si." (Golse,1985).
Nos primeiros meses de vida a criança vive a ausência da mãe como 'mortes', ao sentir-se só e desamparada (Kovács,1992). Este impacta inicial vai determinar, até certo ponto, a relação futura com o tema da morte, do desaparecimento, os lutos, o que são as perdas, a separação; ou seja, como são vividas as sensações de aniquilamento e desamparo.
As perdas 'parciais' sofridas ao longo do seu desenvolvimento remontam a momentos precoces da existência e vão-se, naturalmente, sucedendo o nascimento, o desmame, a renúncia ao 'projecto' edipiano, etc, subsidiando o inevitável encarar psicológico da ideia de morte.
Para Golse (1985), independentemente do vértex de observação (afectiva, intelectual, dupla vertente) a aquisição da noção de morte relaciiona-se com uma aceitação de uma perda de objecto definitiva.
Imagem: "The death mother" de Edward Munch


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