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01 setembro, 2009

Contracepção


Todas as sociedades humanas praticam a contracepção, desde tempos imemoriais. Por contracepção dizem-se medidas que impedem a fertilização. Informa-se que um dos métodos de contracepção mais antigos poderá ter sido o do coito interrompido (coitus interruptus), constituindo em tirar o pénis da vagina, antes do orgasmo, ejaculando por masturbação (método muito falível, dado que, entre outros inconvenientes, as lacunas de Morgani/ glândulas de Littre podem albergar espermatozóides relativos a actos sexuais anteriores). Esta prática é antiga a ponto de ser mencionada na Tora : "Mas Onan sabia que o filho que nascesse não seria considerado seu filho. Por isso, cada vez que tinha relações com a viúva do seu irmão, ele derramava o sémen no chão, e assim evitava dar descendentes ao seu irmão" (Génesis 38:9). Face ao episódio bíblico citado, uma designação clássica para coito interrompido e masturbação masculina é o vício de Onan ou onanismo.


Algo semelhante ao coitus interruptus é o coitus reservatus- o homem impede a ejaculação constrigindo fortemente a base do pénis, na altura própria. Os antigos chineses praticavam o coitus reservatus, na medida em que acreditavam que o esperma retido subia ao cérebro, incrementando a inteligência e o vigor físico. Coitus obstructus, recomendado em textos redigidos em Sânscrito, é uma variante do coitus reservatus, muito praticado pelo Hindus- consiste numa pressão profunda com bloqueio da uretra, perto do períneo, forçando o sémen, no momento da ejaculação, e entrar na bexiga.


De notar que muitos povos da antiguidade remota não associavam a gravidez ao poder fecundante do esperma. Deste modo a prevenção da gravidez baseava-se em ritos de feitiçaria, como por exemplo, lançar maçãs para dentro de um poço ou dançar em cima de mulheres defuntas da sua família. Em contrapartida, os antigos Egípcios sempre acreditaram no poder fecundante do sémen; mas, curiosamente, fosse qual fosse a porta de entrada do fluído, dado que, no seu entender, todos os sintomas viscerais comunicavam entre si. Inclusivamente, em papiros consta que na luta eterna entre o Bem e o Mal, personalizada pelo combate entre dois deuses masculinos, Hórus e Set. Certo dia, Hórus, no frenesim da refrega ejaculou sobre uma folha de alfacea qual veio a ser ingerida por Set. Da "união" nasceu Tot, outro deus masculino ( deus com cabeça de íbis, patrono da escrita). Face ao incidente, a alface foi considerada afrodisíaca, nomeadamente no período em que durante a floração produz látex, o qual representava o "sémen de Hórus".



Imagem: coitus reservatus de Irena Zabloska


Informações adicionais:




23 agosto, 2009

A Vénus anafada


O excesso de peso/obesidade é considerado inestético de acordo com os actuais padrões ocidentais de beleza física. Para além da pré-histórica Vénus de Willendorf, a gordura já foi considerada um padrão de beleza, digna até de ser representada através da pintura de imagens de deuses. Rubens foi um exemplo paradigmático desta afirmação. Todavia, ainda em algumas sociedades actuais uma mulher gorda pode significar riqueza, poder e prestígio, pelo que terá muitos pretendentes.
A obesidade é conhecida desde a mais remota antiguidade, a julgar por alguns artefactos como seja a pré-histórica Vénus de Willendorf. Está descrita a obesidade de um dos últimos faraós, cujo ventre era maior do que a envergadura de um homem com os braços abertos. O célebre Galeno (131-201 D.C.), médico grego, cita o caso de Nichomachus de Esmirna, que era tão pesado que não se podia mover nem se levantar da sua cama. Está também descrito que um senador romano era tão obeso que, para poder andar, dois escravos tinham de o acompanhar para segurar o seu ventre. O célebre médico holandês , Hermann Boerhaave, relata o caso de um homem que para poder comer numa mesa, teve de se cortar um semicírculo da madeira, de modo a poder encaixar o seu ventre.

Celsius Vs Fahrenheit


Para registo da temperatura, há quem utilize a escala Fahrenheit [segundo Daniel Fahrenheit, físico alemão (1686-1736)] em vez da escala Celsius [segundo Anders Celsius, astrónomo sueco (1701-1744)]. Não confunda com Celsius, o filósofo romano (séc. II D.C.) nem com Celsius o médico romano (25 A.C.-50 D.C).



Fahrenheit foi o primeiro a utilizar mercúrio, em substituição do álcool, nos termómetros. A escala de Celsius foi proposta em 1742, constando que, de início, a escala era usada de modo diferente; isto é, 0ºC era a temperatura da vapor de água em ebulição, e 100ºC era a respectiva temperatura do gelo fundente... Em 1750, Martin Stromer, pupilo de Celsius, inverteu a escala de modo a ser utilizada tal como sucede na actualidade.

A escala de Celsius é usada, por exemplo, em Portugal - escala que, em 1948, oficialmente substituiu a designação clássica de graus centígrados para graus Celsius ; contudo, a primeira designação ainda continua frequentemente a ser utilizada, pelo menos em certos meios.

Segundo reza a História, Jon Baptista van Helmont (1577-1644), médico e químico flamengo, foi o primeiro a adoptar o ponto de fusão do gelo e o ponto de ebulição da água, como medidas padrão para medições de temperatura, apesar de não ter concretamente falado em escalas

Uma fórmula muito simples converte graus Fahrenheit (ºF) em graus Celsius (ºC) e vice-versa:
5 X (ºF - 32) = ºC X 9

21 agosto, 2009

Tecido adiposo


Denomina-se tecido adiposo quando o tipo celular principal é, na verdade, o adipócito; na realidade, os adipócitos podem também aparecer, quer isoladamente, quer em pequenos grupos, no seio do tecido conjuntivo.
O termo adiposo deriva do Latim, adeps= gordura animal. Mais concretamente, a palavra adiposus não fazia parte do léxico latino; foi introduzida (cerca do ano 1000 D.C.) pelos tradutores de Avicenna, o mais célebre dos médicos árabes, nascido em Kharmaithen (actualmente, Uzbequistão) e falecido em Hamadan (antiga Pérsia). Avicenna redigiu um tratado de Medicina (Canon Medicinae) o qual foi utilizado na Europa até cerva de 1650, tendo sido feitas 30 edições Avicenna foi o primeiro médico a descrever a gangrena diabética.

16 agosto, 2009

Colagénio, polissacáridos e gelatinas


Submetendo à cocção a pele, tendões, ligamentos, cartilagens e ossos de animais domésticos (em geral os cornos e os cascos não são utilizados), nomeadamente da vaca e do porco, e após filtração e purificação, obtém-se um produto transparente, incolor (ou amarelo muito claro), inodoro e quase insípido cosnstituído, essencialmente, por colagénio dasnaturado e diversos aminoácidos - a gelatina. Após a adição de sacarose e de outros químicos, como ácido adípico, ácido fumárico, citrato de sódio e os, quase indespensáveis, sabores e corantes artificiais, e com a subsequente liofilização, obtém-se um produto comerciável em pó, granulado ou placas denominado, simplesmente, gelatina ou segundo outros nomes comerciais, sendo um ingrediente base para a confecção de sobremesas frias e também de outras guloseimas, como Gummy Bears. A gelatina dissolve-se muito bem em água (nomeadamente quando quente) e, ao solidificar no frigorífico, forma um gel coloidal semi-sólido; daí, a origem do termo gelatina - do Latim, gelatus= duro ou gelado. Segundo uma fonte, a nível mundial e por ano, produz-se cerca de 250 000 toneladas de gelatina.

Uma simples sobremesa de gelatina é, em geral, muito fácil e rápida de preparar e, sendo muito apreciada, torna-se um alimento de eleição para doentes que necessitam de um forte suplemento proteico, mas que estejam a sentir uma aversão temporária aos pratos convencionais de carne ou de peixe. Acresce que a gelatina é de fácil digestão e absorção e, sob o ponto de vista económico, de preço bastante acessível. A gelatina seria um preparado proteico perfeito se não lhe faltasse um aminoácido essencial - o triptofano.

A gelatina também pode ser utilizada como estabilizador, espessante em pastas dentríficas, para dar consistência a sorvetes, compotas, iogurtes, queijos ditos amanteigados e margarinas.
Quem tiver problemas com o consumo de gelatina poderá optar por sobremesas de "gelatinas vegetais", confeccionadas à base de pectinas, agar-agar, carrageenan e kannyaku. Com estes produtos fazem-se sobremesas aceitáveis, embora algo aguadas; com efeito, aquelas "gelatinas" são constituídas por misturas de glícidos e não de proteínas, pelo que não existe, em sentido restrito, gelatinas de fonte vegetal.

As pectinas ( do grego péktos= coagulado) constituem uma família de produtos vegetais da parede celular, nos quais se associam com a celulose, sendo excepcionalmente abundantes nas maças, citrinos (incluindo a toranja) e ameixas, quando maduros. As pectinas são constituídas por polissacáridos complexos, constituídos em volta de uma cadeia central de unidades de ácido D-galacturónico, através de ligações alfa (1-4), onde se pode encontrar também alguma L-ramnose. Existem três tipos primários de polissacáridos pécticos: homogalacturonan, ramnogalacturonan I e II.


O agar-agar é um ficolóide amorfo (um polímero da galactose) derivado da parede celular, principalmente, de algas Rodofíceas, como a Sphaerococcus euchema, e de várias espécias de Gellidum .
O carrageenan é um nome genérico para uma família de produtos polissacáridos sulfatados extraídos também de algas vermelhas (Rodofícias) marinhas. O carrageenan consiste na alternância de unidade 3-beta-D-galactopiranose e 4-alfa-D-galactopiranose.


14 agosto, 2009

Síndroma de Marfan

Segundo Antoine Bernard-Jean Marfan (1858-1942) pediatra francês que a descreveu em 1896, trata-se de uma deficiência genética autossómica dominante. O gene em causa é o gene fibrilina 1 ou gene FBN1 (localizado no cromossoma 15), o qual codifica a fibrilina-1, pelo que a complexidade de sintomas está ligada ao aparecimento de fibras elásticas anormais. Afecta tanto homens como mulheres de todas as raças e etnias. Dado que há uma defiência na constituição das fibras elásticas, o quadro clínico é complexo e variado. São frequentes: o aparecimento de membros muito compridos (dolicostenomelia), mãos com dedos estreitos e muito alongados (aracnodactilia); deformações do tórax com esterno saliente (esterno em quilha ou pectus carinatum ) ou com esterno escavado (pectus escavatum); genu recurvatum, pés planos, miopia, luxação, subluxação do cristalino, dilatação da aorta ascendente, prolapso da válvula mitral, entre outros.


Os membros alongados,a face fina e pectus escavatum, faz pensar que provavelmente Akhenaton (Amenófis IV ou Amenhotep IV), o faraó herético,monoteísta que governou o Antigo Egipto entre 1379 e 1362 A.C., padecia de síndroma de Marfan. Dado que a doença é genética, fica agravada com a prática do inbreeding, o que não admira dado que foi utilizado durante o Imperio do Novo Egipto. Também se suspeita que Abraham Lincoln (1809-1865), o 16º presidente dos EUA, padecia de síndroma de Marfan. De facto, era muito mais alto do que a maioria dos homens do seu tempo, tinha membros alongados, tórax defeituoso e articulações muito flexíveis.


13 agosto, 2009

112 anos de aspirina


O termo salicilato provém do nome botânico da família dos salgueiros, plantas Salicáceas do género Salix. Os antigos Egípcios já usavam o ácido salicílico para combater as dores, ao ingerir a salicina, mastigando, a casca do salgueiro. Hipócrates (c.460-c.377 A.C.) já se referia a um pó amargo extraído da casca do salgueiro e que podia aliviar as dores e baixar a febre.

Em 1828, Johann Buchner, professor de farmácia da Universidade de Munique, isolou da casca do salgueiro um produto cristalino, amarelo e amargo, o qual denominou de salicina. No ano seguinte, Leroux descrobriu que a salicina era o composto activo da actividade analgésica da casca do salgueiro. Em 1838, Raffaele Piria, um químico italiano, então trabalhando na Sorbonne (Paris), desdobrou a salicina num glícido e num composto aromático (salicilaldeído), sendo este depois convertido, por hidrólise e oxidação, num produto cristalino e incolor, o qual denominou de ácido salicílico. Este foi utilizado para mitigar os sintomas da artrite e da gripe. Infelizmente e perante grandes quantidades de ácido salicílico necessárias para haver efeito terapêutico, o produto irritava a mucosa gástrica, podendo ocorrer hemorragias, náuseas e vómitos. O salicilato de sódio foi, pela primeira vez, utilizado na terapêutica, em 1873.



O ácido acetilsalicílico foi sintetizado por Félix Hoffmann, a partir da reacção entre o ácido salicílico e o cloreto de acetilo, em aquecimento, ao tentar encontrar um analgésico potente para aliviar as dores do seu pai, mas que não fosse lesivo para a integridade da mucosa gástrica. O ácido acetilsalicílico apresentava dupla vantagem. Era terapeuticamente mais potente e muito menos lesivo.
Félix trabalhava para uma companhia alemã (Fredrich Bayer & Co) e a sua descoberta ficou registada num protocolo resumido e assinado com data de 10 de Agosto de 1897 – Félix tinha na altura 29 anos. Todavia, por mera precaução, o produto começou a ser comercializado em 1899, por decisão de Dreser, o qual denominou o novo medicamento de Aspirin®.

A origem do nome aspirina é muito curiosa - provém de acetil+spirsäure+ in(a) (terminação muito usada em química). Spirsäure é o nome alemão para ácido espireico (uma designação clássica para ácido salicílico) -nome derivado do nome científico da ulmária, Spiraea ulmaria, uma rosácea de cujas flores se pode extrair aquele ácido.


Droga prodígio do século XX, tendo em conta o amplo espectro de situações clínicas que corrige ou que evita, a um preço que, em termos de medicamento, é de baixo custo. A aspirina é a droga mais popular e mais consumida no Mundo. Antes da introdução no mercado da Aspirina, os analgésicos que se usavam eram os opiáceos e a cocaína. A aspirina foi primeiramente comercializada como pó; em1915 foram confeccionados os primeiros comprimidos. Aliás, a Aspirina foi um dos primeiros medicamentos a ser comercializado sob a forma de comprimido. Após a capitulação da Alemanha na I Grande Guerra, a Bayer foi forçada a desistir da marca registada, como parte do Tratado de Versalhes.

Actualmente, surgiu uma polémica acerca do verdadeiro descobridor da Aspirina, na sequência de uma carta assinada, em Outubro de 1944, por um célebre químico alemão – Arthur Eichengrün (1867-1949). Eichengrün reinvidicou os louros para si, advogando que Hoffmann trabalhou sob sua inspiração, ideia e supervisão, não tendo na altura reinvidicado a sua descoberta por achar o processo de acetilação corriqueiro e pouco digno de registo especial. Eichengrün integrava a equipa na qualidade de cientista sénior, enquanto que Hoffmann era um mero subalterno. Todavia, tendo em conta a fama e os lucros astronómicos associados à comercialização da Aspirina, por que razão Eichengrün apenas levantou a questão 47 anos depois da descoberta? Há que ter em mente que na Alemanha decorria o regime Nazi, e Eichengrün era de ascendência judaica. Daí a carta ter sido redigida no campo de concentração de Theresienstadt (na então Checoslováquia), em pleno cativeiro.

07 agosto, 2009

Osteogenesis Imperfecta





A osteogénese imperfeita ou doença dos “ossos-de-vidro” é o resultado de uma mutação em um dos dois genes que codificam o colagénio de tipo I. Na grande maioria dos casos trata-se de uma doença genética autossómica dominante. A situação implica com a produção de cadeias α1 modificadas e que sofrem degradação espontânea, causando insuficiência cardíaca e ossos extremamente fracos e deformados, sujeitos a fracturas múltiplas e cuja gravidade não pode ser explicada pela intensidade do traumatismo. Pode fracturar-se uma costela, pelo simples facto de tossir, ou uma tíbia quando se vira durante o sono. São carcterísticas a presença de escleróticas azuladas e de pele fina.

Esta enfermidade foi retratada no filme Unbreakable (2000), em que a personagem de Samuel L. Jackson padecia de osteogénese imperfeita.



Síndroma de Ehlers-Danlos



Síndroma baptizado segundo Edvard Lauritz Ehlers (1863-1937), dermatologista dinamarquês e Henri-Alexandre Danlos (1844-1912), dermatologista francês. Trata-se de uma doença autossómica dominante, apesar da Ehlers-Danlos National Foundation se referir a uma forma também autossómica recessiva (http://www.ednf.org/whatisit.php). A síndroma manifesta-se face a uma deficiência na estrutura do colagénio que é uma escleroproteína imprescindível para que a pele, músculos, ligamentos e tendões exerçam eficientemente a sua função de suporte. De uma maneira geral, os afectados exibem: hipermotilidade articular, com dores, com frequentes luxações e/ou subluxações; pele “aveludada”, hiper-extensível, frágil (frequentemente com equimoses e ferimentos) e com cicatrização lenta e deficiente; fragilidade arterial, intestinal e uterina conducente a rupturas; aneurisma (isto é, dilataçºões arteriais por fragilidade das suas paredes); fraco tonus muscular e hérnias; prolapso da válvula mitral; fragilidade ocular, etc.

De acordo com os sinais e sintomas mais evidentes, descrevem-se uma série de variantes, das quais 6 são de tipo major. Por exemplo, no tipo VI, há uma insuficiência na hidroxilação da lisina, por carência de lisil-hidroxilase (como resultado de uma mutação),enzima necessária para a modificação pós-tradução da lisina em hidroxilisina, resultando num aumento da elasticidade da pele, fraca capacidade para a cura de ferimentos e ruptura do globo ocular. No tipo VII, há uma redução da actividade da peptidase do procolagénio (com ausência de clivagem na extremidade N do propéptido), resultando no incremento da mobilidade articular com luxações frequentes. Análises estatísticas recentes revelam para a doença uma prevalência de 1/5000 a 1/10000, afectando indivíduos de ambos os sexos, de todas as raças e de todos os grupos étnicos.


Hipovitaminose C

Também conhecida por escorbuto; a vitamina C (ácido l-ascórbico) é um co-factor das enzimas prolina hidroxilase e lisina hidroxilase. Sem a hidroxilação da prolina, as pontes de hidrogénio, imprescindíveis para a manutenção da estrutura final do colagénio, não podem ser formadas.Como consequênca, o colagénio fica pouco resistente, pelo que propende a ser destruído mais rapidamente. Acresce que o ligamento alveolodentário (o qual prende os dentes aos seus alvéolos e é possuidor de colagénio de elevado turnover). Vai perdendo a sua resistência e os dentes ficam com tendência para sair do seu local de implantação, acompanhados de hemorragia característica. O escorbuto era conhecido pelos navegadores Portugueses, durante a época das descobertas, na altura em que os vegetais (nomeadamente a fruta) se esgotavam e a alimentação ficava baseada no consumo de carne e peixe salgados. O escorbuto infantil também é conhecido como doença de Barlow, segundo o pediatra inglês Sir Thomas Barlow (1845-1945), cuja publicação de 1883 fornece a primeira descrição fiel do escorbuto infantil, previamente confundido com raquitismo.

As urtigas e a alergia

Ao contrário do que se possa pensar, a histamina e a serotonina não são produtos exclusivos de células animais; com efeito, algumas plantas, como por exemplo a urtiga comum (Urtica dioica), uma Urticácea, podem produzir aquelas substâncias, bem como uma panóplia de muitas outras- ácido fórmico, acetilcolina, glicósidos, taninos, acetofeno, astragalina, ácido butírico, ácido cumárico, lectinas, terpenos, violaxantina.
As reacções alérgicas, subsequentes ao contacto com as urtigas, deve-se ao facto das ampolas apicais dos seus pêlos urticantes ou tricomas serem expulsas ao mínimo contacto, deixando livres extremidades aguçadas, endurecidas com sílica e ocas, como se fossem agulhas hipodérmicas em miniatura. Ao serem espetadas nos tecidos do agressor, os tricomas libertam um cocktail contendo histamina, serotonina, acetilcolina, ácido fórmico e outras substâncias. Oliver e tal (1991) demonstraram que cada tricoma de Urtica dioica liberta, em média, 6,1 ng de histamina e 33,25 pg de serotonina. Experiências conduzidas em ratos levaram à conclusão que a reacção alérgica às urtigas se devia à imediata acção da histamina inoculada pelos seus tricomas, e não à histamina libertada pelos mastócitos locais. A sensação de queimadura após o contacto com urtigas deve-se ao ácido fórmico (HCOOH), tal como sucede nas picadas de abelhas – com efeito, Urtica deriva do Latim, uro=queimar. Por sua vez, de Urtica derivou o termo urticária, muito empregue em Dermatologia.

Aquiles e o tendão



Segundo a mitologia greco-latina, Aquiles era filho do mortal Peleu e da ninfa Tétis. Esta mergulhou o recém-nascido nas agias do rio Estige, segurando-o pelo calcanhar, tornando-o assim invulnerável, excepto naquela região. Durante a Guerra de Tróia, uma flecha envenenada, disparada por Paris e guiada por Apolo, foi precisamente cravar-se no seu calcanhar , sendo fatal para o herói; daí a expressão “calcanhar de Aquiles” significar, em sentido figurado, qualquer ponto fraco numa questão.
O tendão de Aquiles é o tendão comum aos músculos gémeos e solear, inserindo-se na região central da superfície posterior do calcâneo. O epónimo foi introduzido em Anatomia, em 1693, por Philippe Verheyen (1648-1710), professor de Anatomia em Louvain. Este cientista holandês teve de amputar uma das suas pernas, tendo-a, ele próprio, dissecado mais tarde.

Anorexia e magreza “aushwitziana”


A situação clínica da anorexia nervosa pode levar, em casos extremos, a indivíduos (em geral do sexo feminino), em nada dramaticamente distintos dos exibidos no post “Kwashiorkor ou marasmo”, face a redução drástica, quer das massas musculares, quer das massas de tecido conjuntivo. A diferença fundamental é que a magreza não é fruto da falta de acesso a alimentos, antes pelo contrário, a não ingestão de alimentos pode ser deliberada (como o caso de alguns modelos fanático em conservar as medidas corporais que acham justas para o exercício da sua profissão) ou a aspectos psicopatológicos graves de repulsa descontrolada na ingestão de alimentos e quantidades adequadas. A anorexia pode alternar-se com a situação oposta; isto é, a bulimia, em que há ingestão compulsiva de alimentos em excesso, por vezes compensada pelo vómito. A malograda princesa Diana Spencer (1961-1997) pedecia de anorexia/bulimia nervosa.


Kwashiorkor ou marasmo?

Kashiorkor é uma situação de má-nutrição proteica crónica, mas hipercalórica dado que a dieta é rica em glicídos (milho, mandioca, batata-doce, etc). Afecta as crianças após o desmame, em países ditos do terceiro Mundo. O termo kwashiorkor (segundo uma das línguas Kwa, do Gana) significa “criança posta de lado”, tendo em conta que o aleitamento fica prioritário para um novo filho que acabou de nascer. Nesta sequência , se a dieta que vai substituir o leite possuir menos de 12% do total de calorias em proteínas, a criança pode desenvolver Kwashiorkor. Surge diarreia, ventre distendido, despigmentação (incluindo cabelo com coloração avermelhada). As crianças parecem gordas, mas na verdade estão edemaciadas. Em geral, a doença pode ser tratada com a reintrodução de leite ou de carne na dieta; todavia, ficarão sequelas relativas a atraso no crescimento físico e, nos casos mais graves, desenvolvimento intelectual.



No marasmo a defiência nutritiva é completa, com indivíduos extremamente magros (tipo”pele e osso”), como sucedeu em Biafra (Nigéria) entre 1967-1970, e ainda actualmente noutros locais do terceiro mundo. Nunca é demais recordar, os milhões de judeus que sucumbiram perante o marasmo criminoso perpetrado pelo Nazis, nos seus infames campos-de concentração.



Imagem 1 retirada do site Medline Plus
Imagem 2 retirada de site-galeria de fotos pessoal


Informação adicional sobre kwashiorkor e marasmo.

Édipo ou edema?


Origem etimológica do termo edema (do Grego, oidein= engrossar ou inchar).
Curiosamente, repare-se na origem do nome Édipo, o herói de duas tragédias gregas de Sófoles (c. 496-c. 406 A.C.): Édipo Rei e Édipo em Colona. Perante um oráculo que revelou que o príncipe de Tebas haveria de matar o pai (Laio) e casar com a sua própria mãe (Jocasta), Édipo foi abandonado numa floresta com os pés amarrados num tronco de uma árvore e de cabeça para baixo. Quando um pastor encontrou Édipo, ele estava com os pés (podós) inchados (oidein); daí ter ficado com o nome de Édipo.
A Esfinge colocava um enigma a todos os estrangeiros que queriam entrar em Tebas: Qual o animal que de manhã anda com quatro patas, ao meio-dia com duas patas e à noite com três patas? Quem não soubesse a resposta era devorado pela Esfinge. Édipo decifrou o enigma, tendo assim destruído a Esfinge.

A aranha e a seda


A seda produzida pelos aracnídeos é a fibra natural mais resistente que o Homem conhece. É 5 vezes mais forte (em termos de peso) do que o próprio aço e é mais forte e mais elástica do que o Kevlar (aramida) – a fibra mais resistente produzida pelo Homem (DuPont, década de 1970) e usada para fazer coletes à prova de bala. Há quem afirme que uma corda de seda de Nephila clavipes com a espessura de um lápis poderia fazer parar um Boeing 747 em pleno voo. Os fios de seda (com uma espessura que pode variar de 1 a 5 μm, de acordo com as espécies) podem esticar 5 vezes o seu comprimento original sem quebrar, possuindo um coeficiente de restituição muito baixo, tornando-os ideais para absorver a energia, sem se romperem, do embate de um insecto durante o voo, em vez de o catapultar por “efeito trampolim”. As glândulas sericígenas dos aracnídeos não são glândulas salivares, mas sim glândulas abdominais. Além do Bombyx e dos aracnídeos, agumas espécies de vespas parasitas e de formigas também produzem seda.
Os termos fibroína, sericina e serina foram propostos por Cramer, em 1865, na altura em que descobriu os produtos precisamente na seda bruta. Sericina e serina derivam do Grego, serikos = seda – de Ser, uma antiga tribo indina, onde a seda foi procurada. Em 1902, Fisher&Leuchs determinaram a estrutura da serina ( um L-aminoácido não-essencial).

06 agosto, 2009

O bicho-da-seda


A larva do bicho-da-seda (lepidóptero da espécie Bombyx mori) produz uma secreção fluida oriunda de um par de glândulas salivares modificadas, glândulas sericígenas ou sericteria ( sericterium no singular), cujos canais se juntam numa saída comum, denominada seripositor, ao nível da cabeça. A secreção endurece por exposição ao ar, constituindo dois fios de casulo gémeos, mas distintos (um oriundo de cada glândula), constituídos por fibroína, um polímero proteico.
Um segundo par de glândulas segrega uma sunbstância gelatinosa amorfa, denominada sericina, a qual liga os referidos fios num único filamento. Assim, cada casulo ou crisálida de seda é constituído por cerca de 76% de fibroína e cerca de 23% de sericina (constituindo a denominada seda bruta), sendo o 1% restante ocupado, essencialmente, por lípidos, ceras e pigmentos. Ambas as proteínas possuem um spelling semelhante; contudo, na fibroína predomina a glicina, a alanina e a serina, enquanto que na sericina predomina a treonina, o ácido aspártico e o ácido glutâmico.
Outra função da sericina é proteger a pupa da acção lesiva da radiação ultravioleta ambiente. Para produzir a seda natural para a confecção de tecidos, a sericina é removida com soluções quentes de sabão e de uma base. De cada casulo pode retirar-se um filamento de seda com o comprimento, em média, de cerca de 800 metros, mas cuja espessura é apenas de 15 a 20μm. Na altura da saída do casulo, a borboleta segrega a coconase (do Inglês, cocoon=casulo), uma protease que destrói as proteínas do casulo, tornando-o não comerciável ao quebrar a continuidade do filamento.

04 agosto, 2009

O colagénio a esponja-de-banho e Golden Gate

Todos os metazoários possuem colagénio; aliás, o colagénio é a proteína mais abundante no reino animal, aparecendo desde as singelas esponjas (Phylum porífera). Aquilo a que chamamos esponja-de-banho, quando natural, não é mais do que o esqueleto de sustentação (constituído pot fibras de espongina- um tipo de colagénio modificado mole), após a remoção das células e das espículas de carbonato de cálcio e de sílica a variedades de esponjas espinhosas da Classe Demospongiae, a fim de se obter um produto macio e comerciável.
Spongia officinalis
Aquando a formação de fibrilas e de fibras de colagénio, a enzima lisil-oxidase promove a formação de ligações cruzadas estáveis (de tipo aldol), entre hidroxilisinas, quer intra, quer intermoleculares. Este fenómeno, levado a bom termo, é crucial para conferir às fibras de colagénio a sua resistência poderosa, de modo a que os tendões, ligamentos, ossos, cartilagem e derme exerçam a sua função de sustentação.
“A nenhumas outras formações anatómicas se aplicará, com tanta propriedade, como ao colagénio, o provérbio a união faz a força” Xavier Morato.
“On a per weight basis, the strength of collagen approaches the tensile strength of steel.”





imagem da Golden Gate Bridge